sábado, 9 de outubro de 2010

QUAL A FÉ QUE SALVA?

No Evangelho do Domingo passado, Nosso Senhor, interpelado pelos Apóstolos, pedindo que aumentasse a sua fé, afirmou que a fé para crescer é como a semente: deve ser plantada, ou seja, posta em prática, para poder crescer.


Hoje avançamos mais um passo. Na primeira leitura e no Evangelho vemos a fé posta em acção. Naaman Sírio fê-lo ao banhar-se sete vezes no rio Jordão, por mandato do homem de Deus; os dez leprosos do Evangelho, obedecendo à voz de Jesus foram mostrar-se ao sacerdote. Mais do que isso, a fé posta em acção, tendo produzido o seu efeito, desembocou no louvor e na acção de graças.

É belo ver como o Apóstolo Paulo intercala em suas Epístolas, hinos de louvor que eram correntes na liturgia dos primeiros cristãos. A boca fala do que o coração está cheio. Isso significa que nos lábios e na mente do Apóstolo Paulo e dos primeiros cristãos, ressoava, durante os tempos de culto e da vida quotidiana, hinos de louvor e de acção de graças. Por exemplo, o seguinte trecho da segunda leitura de hoje é um hino que se cantava entre os primeiros cristãos: “É digna de fé esta palavra: “Se com Ele morrermos, também com Ele viveremos. Se nos mantivermos firmes, reinaremos com Ele. Se o negarmos, também Ele nos negará. Se formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.” (2Tm 2,11-13) Também em outros lugares: “Grande é - todos o confessam - o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne, foi justificado no Espírito, apresentado aos anjos, anunciado às nações, acreditado no mundo, exaltado na glória.” (1 Tm 3,16) Estes, como muitos outros, nas Cartas paulinas são exemplos de hinos. Isto traz à memória a antiga máxima: “Lex orandi, lex credendi” (a norma da oração é a norma da fé); ou "Lex cantandi, lex credendi" (a norma do cantar é a norma do crer); ou melhor ainda: “lex cantandi, lex amandi” (cantamos aquilo que amamos), ou às vezes amamos aquilo que cantamos. O nosso canto de louvor deve impregnar toda a nossa vida, de tal modo que ele nos saia espontâneo, e acompanhe o nosso dia-a-dia. É pena que, com o tempo, perderam-se as melodias destas canções a que são Paulo se refere. Seria belo ouvir como eram entoados estes hinos e compará-las com os do nosso tempo.

O contrário deste espírito de louvor, mostra-nos a historinha que o nosso saudoso Pe. Léi, SCJ contou certa vez. Dizia ele que certa vez um bêbado ia com sua garrafa ao longo de uma linha de comboio. E determinado momento percebei que o seu tornozelo tinha ficado preso entre o batente e o trilho e não conseguia desprendê-lo. Qual não foi o seu desespero quando percebeu que o trilho começava a vibrar, anunciando que não muito longe vinha o comboio. Ele então começou a fazer suas promessas: “Ah minha Nossa Senhora, se meu pé se soltar eu prometo que largo de beber”. E jogou fora a garrafa de wiski que trazia debaixo do braço. Porém o seu pé não soltava. Fez logo outra promessa: Pegou os preservativos que tinha na carteira e jogou-os fora dizendo: “Minha Nossa Senhora, prometo que se soltar meu pé nunca mais uso estas coisas. Porém nada de o pé soltar-se. O apito do comboio já se fazia ouvir. Na sua aflição prometeu: Oh nossa Senhora, se meu pé se soltar eu prometo que não traio mais a minha esposa…” E nada de o pé se soltar. O comboio já era visível. Por último ele pegou na carteira de cigarros e disse: “Ok, se me soltares eu também deixo de fumar.” E jogou a carteira de cigarros no chão. Nisso o seu pé soltou-se, e foi só o tempo de esquivar-se e o comboio passou a toda a velocidade. Levantou-se do chão, respirou um pouco para passar o susto, enquanto o coração voltava aos batimentos normais, sacudiu a poeira da roupa e saiu recolhendo a bebida, os preservativos e a carteira de cigarro dizendo: “Oh Nossa Senhora, como a Senhora não me ajudou e eu tive de tirar o meu pé sozinho, continuo na mesma, ok?….” Esta fé não salva. Pode salvar o corpo, como a dos nove leprosos curados que não voltaram para agradecer, mas não salva a alma. A fé que salva a alma é a de Naaman o Sírio que voltou para agradecer e que pegou cestos de terra de Israel, pois não queria mais cultuar outro Deus senão o dos Israelitas. A fé que salva é a do leproso que voltou para agradecer a Jesus.

Há poucos dias, depois da Eucaristia, recebi uma mãe em lágrimas, mas não de tristeza nem de arrependimento. Trazia lágrimas de gratidão por ter rezado o terço da Misericórdia durante a gravidez e seu filho não ter contraído a doença genética da qual ela era portadora. A Palavra Eucaristia quer dizer acção de graças. Quem dera que todas as pessoas que fossem aos santuários pedir graças, seja em Aparecida no Brasil, seja aqui em Fátima em Portugal, ou em outros santuários pelo mundo a fora, se comprometessem com Cristo e a sua assembleia Eucarística, fazendo de suas vidas uma constante hino de acção de graças a Cristo Jesus que os salvou, da maior enfermidade que possa existir que é o pecado.

Para as células de Evangelização:

Que lugar tem o louvor e a acção de graças em nossas vidas? Ele é vivido de modo Eucarístico?
Pe. Marcelo

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