Acabamos de sair do tempo de Natal. Com a liturgia, a vida do Salvador vai se actualizando na Santa Igreja. “E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.” (Lc 2,52) Também nós que somos o seu Corpo que é a Igreja somos chamados nos fazer crianças e deixar que o Senhor nos faça crescer e aprender como Jesus cresceu e aprendeu humanamente. Sobre esse crescimento diz a carta aos Hebreus: “Pois, vós, que há muito tempo devíeis ser mestres, precisais ainda de alguém que vos ensine os primeiros rudimentos das palavras de Deus e tornastes-vos necessitados de leite, em vez de comida sólida. Ora, o que se alimenta de leite é incapaz de entender a doutrina da justiça, pois é uma criança. A comida sólida, porém, é para os adultos, para os que têm já exercitadas, pela prática, as faculdades de distinguir o bem do mal.” (Hb 5,12-14) O que o autor da Carta aos Hebreus chama de “rudimentos da Palavra de Deus”? Vem escrito logo abaixo no Cap. 6: “…o arrependimento das obras mortas e a fé em Deus, a doutrina sobre os baptismos e a imposição das mãos, a ressurreição dos mortos e o julgamento eterno.” (Heb 6,1-2)
A Igreja, como mãe, que inclusive gera sempre novos filhos, começa mais uma vez, pacientemente a nos ensinar os pontos básicos da vivência da fé de que fala o Cap. 6 da Carta aos Hebreus. Nos domingos anteriores a Igreja falou-nos do Baptismo e das suas consequências, pois nos torna filhos adoptivos de Deus e templos do Espírito Santo. Neste Domingo fala-os do “arrependimento das obras mortas”. O arrependimento foi o que São João Baptista e Nosso Senhor Jesus Cristo pregaram em primeiro lugar: “Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.” (Mc 1,14-15)
Dizia o Sr. Pe. Léu, fundador de uma comunidade de recuperação de drogados, que o pecado que não é absolvido, é absorvido. É uma letrinha só, mas faz toda a diferença. Esta semana aconteceu um fato que ilustra isso plasticamente. Quando estávamos no barco da missão, indo para a comunidade de Saracá, no Rio Negro, surpreendeu-nos um forte vento contrário e consequentemente um forte banzeiro (ondas no rio). Com o balanço do barco, o lugar onde se guardam os pães deve ter-se destapado, o que possibilitou a entrada de uma barata. Quando à noite fui fazer um lanche, após a Santa Missa nesta comunidade, ao provar do pão fui obrigado a cuspi-lo imediatamente, pois o gosto tornava claro que por ali tinha passado uma barata. Ao verificar na caixa, confirmou-se a suspeita… Quando o pecado entra em nossa vida, devemos “cuspi-lo” imediatamente pelo arrependimento, como fiz com aquele pão. Quando um veneno é ingerido e vomitado, a pessoa está salva; porém quando o corpo absorve-o, isso gera a morte. Para que possa ser extraído o veneno do pecado inoculado em nós, é necessário o antídoto do arrependimento. Por isso diz Jesus: “…arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1,15). Se isso não acontece, gera a destruição e a morte, a nível pessoal, familiar e até social. Na primeira leitura de hoje, a mensagem que Deus incumbiu Jonas de pregar era que Nínive seria destruída se não houvesse um arrependimento. O povo arrependeu-se e não houve a destruição. Nosso Senhor continua a falar ao seu povo , mas nem sempre é ouvido. Nossa Senhora em Fátima, durante a primeira grande guerra, falou que se não houvesse uma conversão, viria uma segunda guerra, pior do que a primeira. Como em grande parte seu apelo à oração e à conversão não foi ouvido, todos nós sabemos o que aconteceu…
O arrependimento das obras mortas é algo basilar do cristianismo, mas mesmo quem está muito adiantado no caminho do Senhor, não pode abandonar esse rudimento; assim como quem, já no oitavo ano da escola, está a resolver alguma equação de matemática não pode esquecer as continhas de somar ou diminuir que aprendeu no primeiro ano; pelo contrário, até usam-nas mais. Por exemplo, São Vicente Pallotti que comemoramos hoje, confessavam-se frequentemente mais de uma vez por semana. Os autores espirituais são unânimes em dizer que para nós não cairmos nos pecados mortais, devemos nos arrepender e confessar também os pecados leves. O pecado não absolvido é absorvido. Deste modo, começa-se a querer justificar, até através de leis iníquas, as maiores desordens, mesmo contra a lei natural, como é a união de pessoas do mesmo sexo e o aborto.
Com o arrependimento das obras mortas, reforçamos o Reino de Deus em nossa alma, mas devemos também pedir por todo o mundo como diz São Paulo: “1Recomendo, pois, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças por todos os homens, 2pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, a fim de que levemos uma vida serena e tranquila, com toda a piedade e dignidade. 3Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, 4que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.” (1 Tm2,1-4)
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1- A Carta aos Hebreus diz: “A comida sólida, porém, é para os adultos, para os que têm já exercitadas, pela prática, as faculdades de distinguir o bem do mal.” (Heb 5,14) O autor da Carta aos Hebreus diz que a característica do cristão adulto é a capacidade de discernir o bem do mal, baseado na conformidade ou não com o Evangelho. Tendo isto em conta, quais os sinais de bem que existem na cultura actual?: Ex. Desejo da paz, colaboração entre os povos, ….
Quais os contra-valores passados subtilmente pelos “mass midea”, que depois vão impedindo o arrependimento por não serem considerados como mal?
Pe. Marcelo
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